A busca pela felicidade, uma “loucura”?
Doutor em neurociências mostra em livro angústias e transtornos por trás da obsessão por ser feliz
“A fábrica da felicidade – onde a tristeza é transtorno mental” , lançado pela Editora Appris, intitula o livro do professor Leandro Oliveira, doutor em Neurologia e Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Destinado a leitores do país com a maior prevalência de ansiedade no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a busca pela felicidade dos brasileiros chega à obsessão. Desconstruir esse ideal imposto pela sociedade e resgatar a importância de uma vida emocional autêntica são as propostas da obra, que também mostra como o capitalismo, as redes sociais e a ditadura da beleza moldam a percepção de bem-estar. O lançamento do livro será no dia 6 de dezembro, às 19h, na Livraria Leitura, no Shopping Conjunto Nacional, em Brasília.
A neurociência prova que a saúde emocional não está em evitar a tristeza, mas em integrá-la de forma equilibrada à nossa vivência, diz Leandro, que é professor do programa de mestrado e doutorado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília. “Do ponto de vista neurocientífico, a busca pela felicidade está ligada ao sistema de recompensa do cérebro, mediado por neurotransmissores que produzem prazer e bem-estar como dopamina e serotonina. Sentir prazer ou alegria ativa esses sistemas, incentivando comportamentos que consideramos benéficos para nossa sobrevivência”, explica o autor.
Por outro lado, a tristeza é frequentemente associada a sinais de perigo ou perda, acionando mecanismos de proteção que fazem as pessoas evitá-la. No entanto, segundo o professor, fugir da tristeza é um erro, pois ela desempenha um papel essencial na nossa adaptação e aprendizado emocional. É necessário retirar a tristeza do lugar de transtorno e admiti-la como uma emoção humana legítima, em vez de tratá-la como patológica. O autor diz que isso envolve resistir à pressão de aparentar felicidade constante e criar espaços de diálogo onde sejam possíveis expressar vulnerabilidades sem medo dos rótulos da saúde.
São diversos os gatilhos que fazem crescer cada vez mais a “fábrica de felicidade” na vida dos brasileiros. O consumo desenfreado é considerado um deles porque transforma a felicidade em um produto com venda de soluções rápidas e que podem ser compradas. Já as redes sociais atuam como vitrines e espelham vidas idealizadas e culto aos holofotes. “O filósofo Jean Paul Sartre já dizia que a existência precede a essência. Ou seja, primeiro vem aquilo que sou, depois o que eu idealizo, o que desejo. Entretanto, o que estamos fazendo é inverter esse papel. E o impacto na saúde mental é grave: aumento dos níveis de ansiedade, depressão e insatisfação pessoal. Esse ciclo de comparação e busca incessante por aprovação podem gerar um vazio existencial, discutido por vários filósofos, que dificulta a construção de uma identidade emocional autêntica”, pontua.
A ditadura da beleza é outro fantasma que afeta o bem-estar abordado no livro e contribui para fazer com que a felicidade seja uma meta inatingível. Entre os países que mais fazem cirurgias plásticas no mundo, no Brasil muitos priorizam a imposição de padrões rígidos e inalcançáveis.
Sobre o autor: O Professor Leandro Oliveira é PHD em Neurologia e Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Pós-doutor em Neurologia e Neurociências pela mesma universidade. Graduado em Psicologia, graduando em Biomedicina e Filosofia, atualmente é professor convidado no Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa, em São Paulo, e professor do Programa de mestrado e doutorado em Psicologia da Universidade Católica de Brasília.
Sobre a editora: O Grupo Editorial Appris conta com cinco selos editoriais, das mais diversas áreas técnicas, científicas e literárias. Com 14 anos no setor e a experiência de seus editores, que atuam há mais de 35 anos no mercado editorial, a Appris possui um catálogo com mais de 12 mil obras publicadas e que continua a crescer com uma média de 70 lançamentos por mês.